Pornografia de Vingança: um crime silenciado
- Manda Nudes
- 12 de set. de 2018
- 7 min de leitura
Atualizado: 13 de nov. de 2018
Vítimas do revenge porn levantam a voz e quebram o silêncio que cerca o crime.
Como terceiro país do mundo que fica mais horas online, o Brasil vem conquistando o universo virtual. De acordo com dados de 2016 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os brasileiros online somam 64,7% de toda a população, equivalente a 166 milhões de pessoas conectadas. A pesquisa também aponta o celular como principal meio de acesso à internet, visto que cerca de 77% da população navegam por meio de um dispositivo móvel.
A facilidade encontrada no meio virtual abre espaço para grandes números de visualizações e compartilhamentos de conteúdo. A enorme quantidade de informações enviadas e recebidas pelos internautas possibilita formas indesejadas de exposição nas redes sociais, muitas vezes irreparáveis. Uma vez postado, jamais apagado. Todo ato que conta com uma rede ou dispositivo digital (computador, celular, tablet, etc.) como ferramenta de crime é chamado de crime cibernético.
Segundo relatório divulgado pela Norton Cyber Security, em 2017 o Brasil passou ser o segundo país com mais incidências de crime cibernético do mundo. No ano anterior, ocupava a quarta posição. Dentre os crimes, a pornografia de vingança se destaca como principal.
O Revenge Porn (termo inglês para Pornografia de Vingança) se trata de uma exposição pornográfica não consentida, provocada com o propósito da vingança. O grande objetivo é causar vergonha e constrangimento à vítima por meio da divulgação de conteúdos íntimos, sejam áudios, fotos ou vídeos. Quando se tornam públicos, se tornam crime, visto que não há o consentimento da vítima em expor de tal maneira a sua intimidade.
Na grande maioria dos casos, o crime se inicia com o que muitos podem considerar brincadeira, por meio do chamado sexting. Traduzido a grosso modo, o termo significa “sexo por mensagens”, popularmente conhecido como “nudes”. Uma pesquisa feita em 2016 pelo CONECTai Express, mostra que um a cada cinco internautas já mandou nudes para alguém. Contudo, os que mais recebem esse tipo de conteúdo são homens, que somam 55% do total, uma proporção bem maior do que a de mulheres, que é de apenas 38%.
No cenário da pornografia de vingança, um fator motivador se destaca: o término de relacionamentos. Em entrevista, Ana (nome fictício) relata como se tornou vítima do crime. “Estava com um garoto que descobri estar me traindo. Quando resolvi terminar o relacionamento ele se revoltou, inventou boatos sobre mim que, a princípio, eu fingi que não liguei”, ela conta. “Tudo isso mudou quando ele resolveu mostrar a minha foto para o time dele, pros amigos. Pra quem queria ver ele mostrava”.
Sextorsão: o que é?

Crime cibernético em que usam fotos íntimas e conteúdos pessoais para chantagear, se vingar ou obter algum tipo de recompensa, forçando a vítima a fazer atos contra sua índole. Normalmente acontece com adolescentes, já que podem enviar suas fotos íntimas em um relacionamento, ou com outro jovem com que se sinta confortável. Numa pesquisa feita, adolescentes acreditam que estão conversando com outras pessoas da mesma idade. Tem casos pesquisados nos EUA, que 40% dos abusadores mentem sobre a idade.
Pode acontecer de tais formas como hackearem seus dispositivos eletrônicos e roubarem seus dados; Perfis falsos de empresas ou agências pedindo as fotos;
Relacionamentos passados;
Se mostra um crime com bastante complicações pelo que se mostra em uma pesquisa com 1,631 jovens feita pela Thorn em parceria com o New Hampshire Crimes Against Children Research Center, 1 em cada 3 vítimas dizem que não buscam ajuda porque têm vergonha e 45% dos abusadores cumprem suas ameaças.
O crime pode perdurar por anos e trazer sérios transtornos psicológicos para a vítima. Sofrendo com as consequências e demandas, podem tirar conclusões precipitadas e tirar a própria vida.
Muitas das vítimas, ao ter a intimidade exposta, dão início a processos de adoecimento mental, podendo desenvolver quadros sérios de ansiedade, depressão, ataques de pânico, entre outros. Vitória (nome fictício), de 18 anos, também se tornou alvo do mesmo crime. “Faço terapia até hoje. Em agosto de 2015 entrei com os remédios para depressão e ansiedade, além do tratamento com a psicóloga. Como é um processo lento, tomo remédio até hoje, em uma dose bem menor” ela compartilha.
A psicóloga Cida Garcia reforça as consequências psicológicas que podem surgir. “Os impactos emocionais são severos. Ter a vida exposta, a intimidade exposta e, pior, estar a julgamento de terceiros, pode comprometer a autoestima de maneira muito agressiva”.
Ter a intimidade exposta na internet é um problema que afeta mulheres, em sua maioria. Por esse motivo, é considerado uma forma de violência de gênero. Ainda de acordo com pesquisa da CONECTai Express, a maioria das pessoas (75%) tem medo que sua imagem seja compartilhada na internet, especialmente as mulheres (82%). Os números são reflexos de uma sociedade desigual, que mesmo em ambientes cuja liberdade de expressão é predominante, ainda se encontra ferramentas para calar vozes e constranger pessoas publicamente.
Conteúdos pornográficos são consumidos em massa nas mídias sociais. Páginas de conteúdo adulto, sites e aplicativos de relacionamento e grupos em redes sociais lideram o ranking quando se trata de veículos de exposição. Assim, aqueles que sofrem com a pornografia de vingança ficam sujeitos a uma nova onda de compartilhamentos nas mais diversas plataformas, o que tira da vítima o direito ao esquecimento.
A segurança na internet é um tema que deve ser ensinado desde cedo, ainda nas escolas. Segundo Márcia Medeiros, orientadora educacional do CEMSO (Centro de Ensino Médio Setor Oeste), em Brasília, “a gente não tem projeto, mas sempre que podemos falamos que tudo que é colocado na internet vai fazer parte da vida dele (o aluno) para sempre”. Ainda nesse ambiente, é identificada grande incidência de casos da pornografia de vingança. Isso está associado ao tempo que os jovens passam online juntamente com o início da descoberta da sexualidade.
Ao lembrar de casos, a orientadora comenta os prejuízos no processo de ensino das vítimas. “O que a gente percebe, primeiramente, é o isolamento, a vontade de não vir mais para a escola e, com isso, a queda no rendimento” ela relata. Em contrapartida, a psicóloga Cida Garcia relembra um caso atendido e comenta “Ela não podia faltar, não era uma justificativa para a escola que ela se ausentasse das aulas, então ela não teve esse respaldo. Ir pra escola, ouvir piadas, risadinhas. Tudo isso causou somatização na paciente, o que a levou a uma tentativa de suicídio”.
Ao conversar com vítimas, nota-se persistência para sobre o acontecido com a família. O medo de julgamentos e da resistência vinda de possíveis conservadorismos faz com que escondam o problema de seus familiares. De seis entrevistadas, apenas uma teve o apoio da família. Em vídeo, Maria Clara conta que o apoio recebido em casa foi essencial para reafirmar sua autoestima e empoderar seu discurso.
Numa sociedade cuja cultura banaliza a nudez, falar de sexualidade pode ser um desafio e tanto. “Os casos relatados demonstram como nós lidamos com o sexo. No passado ele já foi demonizado, visto como uma forma de pecado, uma forma suja, errada. É extremamente contraditório e, no mínimo, hipócrita. De onde viemos? Pessoas estão nascendo o tempo todo” completa a psicóloga.
Conheça o "slut shaming"
Slut shaming é uma expressão que vem do inglês. Comumente usada para taxar garotas de promíscuas. Acredita-se que a expressão deriva da marcha das vadias (slut walk). Sempre existiu esse fenômeno e esse estigma social sobre as mulheres. Geralmente eram taxada de promíscua a mulher que começava a vida sexual antes do casamento, que era mãe solteira ou até mesmo pelo jeito de se vestir. Sempre foi comum que as mulheres sejam rotuladas como praticantes do pecado.
As taxações dessas meninas têm como maior dano o fato da culpalibização da vítima, a mulher. Pois na maioria dos casos elas são julgadas e estereotipadas, única e exclusivamente pelos conceitos machistas da sociedade. Qual o problema se a mulher quer usar saia? Qual o problema de ficar com quem ela quer, ou até mesmo trocar nudes!? Não existe problema algum! O único “problema” é o fato de não se adequar aos padrões da sociedade.
Por muito tempo essa humilhação ocorria em menor escala. No grupo social, escolar e até familiar. Porém nos tempos de hoje o slut shaming e o revenge porn, estão altamente interligados. Contudo a prática perdeu o controle e as vítimas passaram a ser julgadas, xingadas e humilhadas por pessoas que nem se quer conhecem. Causando um dano psicológico terrível. Como sabemos, o que cai na web é praticamente impossível de tirar ou de ser esquecido.
As vítimas costumam dizer que não é pelo fato de elas serem mulheres que elas não podem demonstrar seus desejos sexuais, ou serem forçadas a manter um estereótipo de comportamento que vêm desde a Idade Média. Como por exemplo a Thaís, que em seu relato conta que tirou fotos de sutiã e calcinha e enviou para um grupo de amigos, afinal para ela não havia nada de errado nisso. Quem divulgou as fotos íntimas foi um garoto que ela já tinha dito que não queria ficar com ele antes.
Após a divulgação das fotos, esse menino começou a falar pra ela que o que ele tinha visto era uma ofensa aos olhos dele e que ela devia tomar cuidado. “ Eu sinto que foi alguma coisa de vingança. ” Conta Thaís.
Um dos primeiros medos das vítimas é sobra a taxação de terceiros e a imagem que fica manchada. “ Eu pensei que as pessoas iam me xingar por causa disso.” Daí vemos como o psicológico pode ser afetado e o quão perigoso pode ser a prática do envergonhamento público e desenfreado sobre as vítimas. Podendo assim resultar em consequências muito sérias, tanto físicas, sociais e até mesmo socialmente.
A prática de mandar nudes é comum, sobretudo em relacionamentos em que intimidade já foi consolidada. Pode ser feita de forma saudável, sem que nenhuma das partes sejam colocadas no tribunal virtual, desde que sejam respeitados os direitos de cada um. Além de um prática prazerosa, pode contribuir para a autoestima e para melhor vida sexual, contribuindo assim, para a saúde mental e física das pessoas. Contudo, para que seja uma prática, de fato, saudável, é necessário que sejam mantidos o sigilo, respeitando a privacidade de cada um.
Como mandar nudes de forma segura?

Uma prática que com a evolução da tecnologia, tem se tornado muito comum. Pela facilidade que se encontra hoje em dia, com os smartphones e os aplicativos de comunicação. Mas que traz sérias consequências como sextorsão e os vazamentos das fotos, por exemplo.
Essa prática entre os jovens é algo que vai acabar acontecendo, pelo fato que eles estão descobrindo sua sexualidade nessa época. Por isso aqui vão algumas dicas de como se mandar esse conteúdo de forma segura. Fique anônimo, de forma alguma mostre seu rosto, tatuagens ou algo que irá fazer com que te reconheçam.
Há aplicativos que oferecem serviços que facilita essa prática de forma segura, como o Snapchat que a foto desaparece em segundos e não registra. Existe o Obscuracam que pixeliza parte das imagens, esse são algum dos serviços que são propensos a essa atividade.
A confiança vai ser uma parte crucial para que nada vaze. Já que é um conteúdo muito íntimo e explícito, só envie para pessoas com que se sinta confortável e a vontade, e que sejam de sua confiança.
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